31/01/2012

Comitês alertam governo gaúcho para necessidade de completar Sistema de Recursos Hídricos


 Documentos elaborados pelo Fórum Gaúcho dos Comitês de Bacia e pela seção RS da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES-RS) estão alertando o Governo e a sociedade gaúcha para a necessidade de ser completado o Sistema Estadual de Recursos Hídricos com a criação das agências de bacia previstas na Lei 10350 promulgada em dezembro de 1994.
Neste momento em que todo o território gaúcho sofre uma estiagem prolongada com sérios reflexos em sua economia as entidades destacam a importância de que se adote efetivamente a gestão dos recursos hídricos de modo a preparar o Estado para enfrentar as enchentes e secas que já se tornaram cíclicas.
No documento assinado pelo presidente do Fórum Gaúcho dos Comitês, Daniel Schmitz, é destacado que somente a correta e completa gestão dos recursos hídricos pode oferecer "a garantia de reservação da água em quantidade e qualidade para atender momentos de carência deste bem indispensável ao desenvolvimento econômico e social".
Enfatiza a urgência de o Rio Grande do Sul ter "um Sistema de Recursos Hídricos completo e implementado, que possa antever a crise, contando com instrumentosde planejamento e gestão eficazes quando da ocorrência das mesmas.Isto significa dar condições de pleno funcionamento do Conselho de Recursos Hídricos, Departamento de Recursos Hídricos, Agências de Região Hidrográfica, FEPAM e Comitês de Bacias Hidrográficas, seus instrumentos de planejamento, enfatizando o Plano Estadual de Recursos Hídricos e os Planos de Bacias Hidrográficas e, seus instrumentos de gestão, considerando as outorgas, licenças ambientais e cobrança pelo uso da água.
Ainda, sugere aos usuários da água que participem do processo de gestão junto aos Comitês de Bacias e que usem os recursos hídricos com maior eficiência, tanto na otimização do processo de uso das águas captadas, como na eficácia quando do tratamento e lançamento dos efluentes e águas servidas.
Já em outro documento, entregue na Casa Civil, a ABES-RS faz um histórico dos 17 anos decorridos da criação da Lei Gaúcha das Águas e critica o comportamento errático do governo estadual:
"Diante de mais este evento desastroso, assistimos ao corre-corre governamental, em seus três níveis: municipal, estadual e federal. Azáfama esta perfeitamente compreensível – afinal, trata-se de mais uma emergência – mas, sem dúvida, atabalhoada, desorganizada, baseada em GTs ad hoc recrutados arbitrariamente. Em paralelo às medidas, principalmente financeiras, de apoio aos produtores rurais, começam a surgir idéias que incidem diretamente sobre o tema da gestão de recursos hídricos: abolição, em certas regiões, de culturas de irrigação intensiva, perfuração indiscriminada de poços, microaçudagem, irrigação “racional” como solução de longo prazo (a mais recente parece estar na Califórnia), etc".
O documento alude ao desconhecimento dos responsáveis pelos órgãos do governo estadual sobre o que seja gestão de recursos hídricos:
"Revelam os membros do governo entrevistados uma séria incompreensão no que tange a qualquer estratégia de longo prazo bem sucedida. A principal evidência desta incompreensão transparece no momento em que, se diz, órgãos como a Secretaria de Agricultura, a Secretaria de Obras e Irrigação, a Secretaria de Habitação e Saneamento, etc., haverão de “cuidar” dos nossos recursos hídricos. Deve ficar bem claro, desde já, que os mencionados órgãos são entes governamentais direcionados para o planejamento e promoção dos usos dos recursos hídricos e não para a gestão desses recursos. A efetiva gestão dos recursos hídricos, ou seja, das águas que a natureza oferece, implica a proteção (recuperação, conservação) dos mananciais e o reconhecimento de sua escassez relativa e, conseqüentemente, a necessidade de usos compatibilizados e compartilhados; em suma, um comando efetivo dos recursos hídricos de tal modo que os diversos agentes moderem suas respectivas demandas/utilizações, disponibilizando-se para todos eles, ainda que em quantidades moderadas".
Medidas urgentes

O documento divulgado pela ABES-RS conclui destacando:
"A atual crise climática por que passa o RS demonstra claramente o quanto o Estado perde por não ter implementado completamente a política de gestão dos recursos hídricos e por não ter aproveitado, até aqui, todos os instrumentos institucionais, gerenciais e políticos criados pela Lei 10.350. Na atual situação do RS, embora o sistema gaúcho não tenha condições de atuar emergencialmente, por não estar sequer efetivamente estabelecido, esperamos que a crise sirva, ao menos,
1 - para chamar a atenção do Governo para o significado e a importância da gestão das águas,
2 - para o reconhecimento do Sistema Estadual de Gestão dos Recursos Hídricos como concretização de uma política pública e
3 - que seja a oportunidade para a implantação e implementação definitivas de todas suas instituições e instrumentos,
4 - para podermos testar uma cláusula constitucional e uma lei, ambas modernas e solidamente embasadas, que até agora os sucessivos governos insistem em ignorar".

Papel dos Comitês

O documento da ABES-RS destaca, ainda, o papel dos comitês ao lembrar que:
"Um plano de irrigação na bacia tem que ser compatibilizado com o plano de saneamento dessa mesma bacia; um
esquema de reservação (armazenamento) de águas em épocas de altas chuvas para regularização de vazão e enfrentamento de enchentes e estiagens, deve ser estabelecido globalmente ao nível da bacia, e não arbitrariamente, ponto por ponto.Em suma, o que o planejamento por bacia procura é, através dos dados do balanço hídrico – que leva em conta, é claro, as ocorrências extremas e suas probabilidades – e das negociações entre os representantes componentes do comitê, preparar a comunidade, em geral, e os usuários, em particular, não só para o compartilhamento dos recursos hídricos em épocas normais, mas também para esses eventos extremos que necessitam protocolos específicos de atuação.
 

Crise no RS: culpa do clima ou da falta de gestão das águas?
Por décadas os sulistas desdenhavam das queixas nordestinas por causa da seca. Parecia um berreiro infantil escondendo a incompetência de se adaptar a um clima com estiagens cíclicas.
Pois não é que agora estamos imitando direitinho o que ele faziam? Chorando e correndo a Brasília de pires na mão para recolher migalhas.
Há mais de 10 anos o Rio Grande do Sul vem sofrendo com verões inclementes e praticando a política do “coitadismo”, empurrando dívidas com a barriga e adotando medidas paliativas. No próximo verão se chover bastante tudo será esquecido.
Desde 1994 o Rio Grande do Sul tem uma lei de gestão das águas que quando surgiu foi pioneira e inovadora. Hoje está ultrapassada e capenga. Nunca foram criadas as agências que se encarregariam de executar os planos de preservação e conservação dos mananciais e ainda não se adotou a cobrança pelo uso dos recursos hídricos que já está em pleno funcionamento até mesmo no Nordeste.
A natureza é sabia e sempre os rios buscaram preservar-se através de mecanismos próprios. Zonas de inundação servem para armazenar água para a época de poucas chuvas e alta evaporação. Matas ciliares protegem as margens das erosões e enxurradas que entulham o leito e diminuem a vazão.
Mas o homem que se acha mais sábio foi ocupar estas zonas com cidades e plantações gerando lixo e esgoto sem tratamento que hoje ocupam o lugar das águas. E tratou de derrubar praticamente todas as matas que margeiam os rios em nome do “progresso”.
É preciso reagir com inteligência contra este fatalismo que domina as conversas, as reportagens e as medidas paliativas como se tudo fosse um castigo do céu. A recuperação é lenta e precisa ser permanente mas tem que começar já. Na gestão das águas a máxima é que mais vale prevenir do que remediar.
Muito por fazer

A primeira medida é dar condições ao Estado para gerir as águas que estão sob seu domínio, o que significa melhorar a estrutura do Departamento de Recursos Hídricos, complementar a Lei 10350 com os instrumentos previstos para a correta gestão e investir maciçamente no tratamento do esgoto cloacal. É hora de dar um basta no engodo de misturá-lo com as águas da chuva. Os rios e as cidades não suportam mais.

Fonte e apoio: Comitê Ibicui <comiteibicui@via-rs.netEm 27 de janeiro de 2012 15:40, Comitê Ibicui <rs079206@via-rs.net>

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